A memória colectiva de um povo é constituída por bens materiais e imateriais, que se estendem no tempo e no espaço e contribuem na construção da identidade comum e na comunidade política mais ou menos homogénia, através da sua assimilação por gerações presentes e futuras do espaço geográfico em referência.
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos inaugurou no dia 23 de Setembro de 2017, na cidade de Luanda, um monumento em homenagem ao soldado desconhecido. É certamente um gesto de elevado valor simbólico, um dos mais significantes no processo da construção da nossa comunidade política, pois trata-se de um lugar de memória.
O que é um lugar de memória?
Um lugar de memória tem por finalidade cristalizar o passado histórico e em seguida transmiti-lo às gerações futuras, especialmente, considerando que a presença colonial portuguesa no território angolano perturbou longamente a comemoração do passado pré-colonial, facto agravado seguidamente pelas fortes oposições entre os movimentos independentistas históricos, adiando desesperadamente momentos de comunhão e de confraternização entre os filhos da mesma terra.
Hoje, a paz é uma realidade. Porém, a sua conquista completa e definitiva será sempre condicionada pela forma como cada um de nós vai relacionar-se com uma memória que doravante deve ser igualmente colectiva, dado que ainda temos uma memória fracturada, enquanto que a paz definitiva implica a pacificação da memória.
Uma das vias mais sólidas de construção de comunidades políticas é, justamente, através da conciliação dos lugares de memória. Estes que sejam simbólicos (bandeira, hino), materiais (bibliotecas, instituições públicas) ou funcionais (manuais escolares) devem ser fiéis à história do povo. Os lugares de memória são antes de tudo “os restos” de um passado comum. No entanto, estes restos devem espelhar a pluralidade da história. Enquanto a história é uma reconstrução problemática e incompleta de uma realidade passada, a memória é selectiva. Consequentemente, revisitar os nomes das ruas, dos monumentos históricos são sinais fortes que podem, até um certo ponto, atenuar as frustrações e consolidar a nossa vontade de construir uma Angola para todos.
Nunca esqueçamos que a nação, tal como diria Benedict Anderson, é apenas uma comunidade política imaginada. Esta nação só se consolida com adesão e a crença de cada um dos membros da comunidade à essa ficção, pois, justamente, o sentimento nacional não é espontâneo. Deve ser interiorizado, ensinado. É por essa razão que existem os lugares de memória para transformar o sangue, as lágrimas, as desavenças e os desencontros do passado, em projectos, sonhos e orgulho de todos.
You may also like
-
How the “Limited Legitimacy Syndrome, LLS” undermines democracy and national interests in Africa
-
L’Africa tra la Cultura della Pace e la Pace attraverso la Cultura. Una lettura complementare delle Biennali di Luanda
-
L’Afrique face aux défis du marché du travail: une nouvelle vision pour le développement
-
África entre a Cultura da Paz e a Paz através da Cultura. Uma leitura complementar das Bienais de Luanda
-
Como é que a «Síndrome da Legitimidade Amputada, SLA» prejudica a democracia e os interesses nacionais em África