A política hoje é também praticada por meio de plataformas de mídia social (Social Media). Hoje em dia é muito comum que políticos twitem pensamentos, idéias e factos gerais sobre matérias que julgam merecer partilha com os seguidores. Ou candidatos políticos que gravam programas executivos ou se manifestam no Facebook ou no Youtube. Deste logo, até que ponto os políticos angolanos estão atrasados nessa matéria?
Desde a sua primeira eleição multipartidária ocorrida em 1992, Angola vem realizando um processo político-eleitoral e da transferência de poder mais regulares desde 2008, mesmo que seja a favor do mesmo partido (MPLA) que está no poder do Estado desde a independência em 1975.
Em geral, se o conceito de Democracia Electrónica Directa (EDD-Electronic Direct Democracy) foi criado anteriormente com o advento da Internet, é justo observar que o uso massivo de mídias sociais, como instrumento de participação política, ganhou um grande ímpeto durante a eleição presidencial nos EUA em 2008, durante a qual as duas campanhas presidenciais, especialmente a de Obama, lançou muitos posts on-line no Facebook ou no Twitter, a fim de espalhar mensagens, obter doações ou conquistar simpatizantes do seu programa eleitoral e, eventualmente, votar nele.
No entanto, o momento das duas eleições nos Estados Unidos da América e em Angola, não poderia ser mais interessante do punto de vista do uso de Social Media, já que, no primeiro, as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) já estavam desenvolvidas e mais inovações de ponta estavam sendo lançadas a ritmo acelerado, enquanto que no segundo a única transformação significativa que ocorreu foi a transição do desactualizado sistema analógico para o novo sistema digital, especialmente no sector de telecomunicações, numa altura em que a desigualdade digital (digital divide) entre os angolanos era elevadissíma, onde apenas 4% dos mais de 12 milhões de habitantes era usuário da Internet na época.
Todavia, durante as últimas eleições gerais realizadas em Setembro de 2017, jovens das áreas urbanas, em particular das principais cidades do país, como Luanda, Benguela ou Lubango, estiveram intensamente envolvidos e interessados em usar plataformas individuais ou colectivas de Social Media para ajudar a espalhar informações gerais, ideias e imagens de candidatos e partido políticos de suas preferências. Neste período, os usuários de Internet eram mais de 22% dos 26 milhões de angolanos, grande parte clientes das duas maiores companhias, conforme o quadro abaixo:
Preço em USD 1GB em Angola
Fonte:Research ICT Africa
Como a maioria das principais figuras políticas do país não usa plataformas de mídia social para se envolver com a cidadania e eleitorado – o que de alguma forma é um reflexo de uma insuficiente compreensão da vitalidade que ela representa para a democracia – os principais actores da democracia eletrónica em Angola são naturalmente os jovens de várias facetas e algumas oganizações da sociedade civil e do activismo público, a academia, artes e desporto, o que, por extensão, significa que a EDD em Angola não está a funcionar no sentido que vai dos políticos aos cidadãos, mas sim o contrário: dos cidadãos para os políticos, servindo como suas vozes e olhos, especialmente durante o período das eleições, mas também durante períodos de maior apreensão social como o que se verifica hoje, em que vários posts em Social Media apresentam um quadro social de incertenzas ligado ao andamento da economia e dos preços dos produtos da cesta básica, aos resultados do combate à corrupção e repatriamento de capitais e aos níveis de criminalidade presentes.
Assim, dentro de um esforço mais amplo para estabelecer uma democracia eletrónica no país e uma participação directa mais efectiva de todos os cidadãos, todas as figuras políticas deveriam estar mais engajadas nas plataformas de Social Media, não apenas para ganhos pessoais e políticos, mas para contribuir ao desenvolvimento mais forte da EDD, numa altura em que se verifica uma cada vez mais redução da desigualdade digital, pois mais angolanos estão online expressando suas preocupações, especialmente neste momento de ansiedades sociais e económicas, graças ao preço mais barato de 1GB nos últimos três anos, todavia muito alto se comparado com o Ghana e o Egipto, como segue:
Preço em USD 1GB em África
Fonte:Research ICT Africa
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