Desde a sua fundação em 1956, o MPLA habituou os seus militantes a elegerem os seus responsáveis máximos por via de indicações. Esse tem sido o processo recorrente, porque data desde a morte do seu primeiro presidente até à data actual. Isso, de qualquer modo, tem penalizado o processo democrático dentro do partido.
Actualmente fala-se da suposta BICEFALIA, algo que o partido dos Camaradas pode ter abraçado, o que seria o início da despartidarização do Estado. Do ponto de vista político, este fenómeno pode ser encarado como uma nova fase de figuras díspares quer do ponto de vista partidário,quer do ponto de vista do Estado/Governo.
Procedendo deste modo, o presidente do partido teria o tempo inesgotável para as questões que têm a ver com a vida política partidária e o presidente da República, por sua vez, se empenharia com as questões relativas ao Estado. Viveria-se um novo modelo de governação sem interferências.
A BICEFALIA, termo este que os peritos angolanos enquadraram no léxico político nacional, para afirmar que existem dois centros de decisões, que de um lado está o presidente da Republica e chefe do Estado, e do outro lado,o presidente do partido. Praticamente são: duas cabeças, um partido, duas funções: e um único interesse: Angola.
Uns afirmam que dos Santos tem de abandonar a liderança do partido, outros ainda pretendem que ele continue dirigindo a nave. Doutro lado, querem que João Lourenço esteja na presidência do partido para que governe sem choques.
Este assunto nos levaria a várias questões:
1- Porque é que se perde tanto tempo com questões que têm a ver com o partido dos Camaradas se o país tem outros assuntos por resolver, uma vez que isso tem a ver mesmo com a vida interna do MPLA?
2- O que o presidente tem a ver com BICEFALIA, se ele tinha sido indicado pelos Camaradas para dirigir os destinos do MPLA, concorrendo consigo mesmo, mesmo tendo anunciado que abandonaria a vida política activa em 2018?
3- Sobre a questão “vida política activa”, será que se referia a vida política activa como presidente do Partido ou como presidente da República?
Podem ser respondidas, não de forma profunda, simplesmente as duas últimas questões, dando a oportunidade aos caros leitores a reflectirem sobre a primeira.
Indo para a última questão, estaríamos diante a duas respostas:
a) se a vida política activa que o presidente dos Santos se referiu tinha a ver com a do Estado, então, ele cumpriu, ou seja, deixou a vida política activa como presidente da República de Angola para que estivesse inteiramente ligado ao serviço do partido;
b) se era para o partido, então, surgiriam mais inquietações:
1- Se o presidente anunciou que deixaria a vida política activa, porquê é que foi reconduzido e reeleito à presidência do partido?
2- Porquê é que o BP ou o CC não resolveu imediatamente este assunto antes das eleições de 23 de Agosto último, visto que concorrer à presidência da República não é necessário que o candidato seja inequivocamente presidente do Partido?
Esta segunda inquietação poderá ser respondida conjugando-a com a segunda das primeiras três. O BP e o CC esqueceram-se deste pormenor, porque não o deveriam ter indicado e consequentemente nomeado à presidência do MPLA, já que se isso fosse feito evitaria-se esta suposta BICEFALIA, vocabulário este que surgiu exactamente para dizer que tem de existir unicefalia. Momentos depois de ter anunciado a sua pretensão em abandonar a vida política activa, estes dois órgãos deveriam arranjar mecanismos para que ele não fosse mais reconduzido à presidência do MPLA e de consequência indicar João Loureço para o substituir, mas, o que se notou é que dos Santos foi persuadido a dar continuidade aos destinos do partido dos Camaradas sendo que, alguns desses que o elegeram, agora querem-no fora.
Por outro, vê-se na redes sociais uma série de informações que evocam o nome de João Loureço como possível sucessor à presidência do MPLA. Primeiro, o poder não se vende, conquista-se; segundo, se este partido quer ser forte e coeso, as candidaturas devem ser livres, independentes e democráticas; terceiro, devem-se evitar indicações, porque este é um grosso problema de topo a base; quarto e último devem existir candidaturas múltiplas no sentido lato da palavra.
O “problema” está sendo visto do lado de fora, com muita precipitação, porque não se sabe de concreto o que está sendo cozinhado ao mais alto nível, ao passo que alguns descartam a existência de conflitos dentro do partido. A título de exemplos foram as afirmações feitas pelo vice presidente do MPLA aquando da reunião metodológica realizada no pretérito sábado 17/03/2017, segundo as quais, “não existem Eduardistas, nem Lourencistas, mas sim Empelistas”, isso mostra que os problemas internos do partido estão sendo e devem ser tratados internamente.
Contudo, com os pressupostos supracitados, o MPLA, estaria no processo de democratização e as forças políticas da oposição não se dariam mais ao luxo de se afirmarem como sendo as “únicas forças políticas democráticas”, mesmo com candidatos satélites, nalguns casos.
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