Enquadramento sócio-político do «Vai (s) Gostar» e do «Vai (s) Assustar Já Está»


O ano 2022 está consumado. Porém, há que sintetizar alguns eventos relevantes verificados nele, entre os quais, a capacidade de criação pelos angolanos de neologismos com significados sui generis e o seu impacto na interacção social através da veiculação de mensagens ambivalentes no panorama político nacional.


Eleições de 2022: vencedores e vencidos

In primis, porque foi o ano da realização das quintas eleições presidenciais e parlamentares na história do País, ganhas, mais uma vez, pelo partido MPLA. O ano em que houve especulações de uns, e esperanças de outros, sobre a possível alternância política pela esperada vitória da UNITA, que não reconheceu, novamente, a derrota nas urnas, o que não surpreende, porque já é um costume que os que “ferrenhamente”ambicionam ganhar as eleições na maior parte das vezes, ou quase sempre, nunca reconhecem os resultados que não lhes favorece, alegando sempre fraudes eleitorais.

Segundo, notou-se, mais uma vez, uma redução das forças políticas participantes nas eleições gerais em comparação com 2008, em que participaram 14 forças políticas. Nas de 2022 apenas 8 formações políticas, incluindo uma coligação, e que concorreram, destacando aqui o surgimento do Partido Humanista, força política liderada por uma mulher.

Terceiro, Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, concorreu aliando-se ao Bloco Democrático e ao PRA-JA, reunidos na plataforma denominada FPU-Frente Patriótica Unida, obtendo resultados que lhes permitiu ter maior número de assentos parlamentares na história pós-paz.

Quarto e último, a CASA-CE não aceitou se casar com a FPU. Teve a maior decepção nessas eleições, porque não conseguiu convencer o eleitorado, ou seja, é mesmo que dizer que a sua mensagem não foi ouvida nem aceite. Pode especular-se também que este facto aconteceu porque um dos seu fundadores, Abel Chivukuvuku, decidiu divorciar-se da CASA-CE e fundou o seu PRA-JA, ainda por autorizar como formação política pelo Tribunal Constitucional.

Vai (s) Gostar e Vai (s) Assustar Já Está

Regra geral, nos anos eleitorais os angolanos criam neologismos próprios com os quais interpretam,  compreendem e explicam os fenómenos políticos, suas preferências políticias e críticas. Se em 2017 nasceu o termo Bicefalia (isto é, dois centros de poder, de um lado, o Presidente do Partido, no caso, José Eduardo dos Santos, após abandonar o poder em 2017, e do outro, o Presidente da República, João Lourenço, em que políticas nacionais eram arquitectadas entre o «Futungo de Belas» e a Cidade Alta entre 2017 e 2018), em 2022 surgiu o «Vai (s) Gostar» e «Vai (s) Assustar Já Está»

«Vai (s) Gostar» e «Vai (s) Assustar Já Está» foram dois vocábulos que surgiram no decorrer das eleições de 2022 (que para muitos foram as melhores que o País já teve em termos de competitividade, se comparadas com as de 1992). O que significam, no entanto, Vai (s) Gostar e Vai (s) Assustar Já Está?

O vocábulo Vai (s) Gostar encerra o «desejo da mudança ou da alternância política» em Angola, isto é, que o MPLA perde (ria) as eleições de 2022, por não terem sido concretizadas as promessas efectuadas no âmbito do “Corrigir o que esta mal e melhorar o que está bem” (eleições de 2017), e por ser o único vencedor das eleições gerais em Angola desde as primeiras históricas de 1992, mas no poder desde 1975.

O vocábulo Vai (s) Assustar Já Está encerra o «desejo da continuidade do MPLA no poder» em Angola, isto é, que a UNITA perde(ria) as eleições de 2022, por falta de experiência governativa, entre outras razões.

Ambos os vocábulos representam, por isso, uma mensagem política ambivalente entre os militantes e apoiantes da UNITA, que afirmam Vai (s) Gostar de forma isolada, ou então inserida numa frase, como JLO vais gostar ou MPLA vai gostar, que significa Vai perder; Jlo vais perder ou MPLA vai perder, respectivamente, ao passo que, em resposta aoVai (s) Gostar, os militantes e apoiantes do MPLA respondem ou afirmam: Vai (s) Assustar já está; ACJ vais assustar já está ou UNITA vai assustar já está.

Ambos são, igualmente, uma verdadeira manifestação de preferência política no xadrez político angolano, reduzido a um bipolarismo entre o MPLA e UNITA. Isto é, se quiséssemos saber em quem certas categorias sociais votariam, bastaria ouvi-los dizer «Vai (s) Gostar» e «Vai (s) Assustar Já Está» para imaginar as suas preferências políticas entre a continuidade (MPLA, ou Vai (s) Assustar Já Está) ou mudança (UNITA, ou Vai (s) Gostar).

Assim, tanto a Bicefalia (2017) como Vai (s) Gostar e Vai (s) Assustar Já Está (2022) sinalam uma capacidade de criação pelos angolanos de neologismos com significados sui generis e o seu impacto na interacção social através da veiculação de mensagens ambivalentes no panorama nacional, como slogans partidários, ou como expressão geral, já que têm sido empregues no quotidiano fora do processo eleitoral.

 Portanto, das 18 províncias que usaram como slogansVai (s) Gostar ou Vai (s) Assustar Já Está, apenas 3 é que o MPLA “gostou” e 15 foram onde a oposição toda “assustou já esta”. Mas entre os Vai (s) Gostar e osVai (s) Assustar Já Está existe uma Angola que todos almejamos produza transformações que beneficiem o povo, considerando que o ano de 2022 terminou sem a Covid, com o preço ouro negro em alta a aumentar uma enorme massa monetária no País e com um governo de continuidade que deve mesmo melhorar o que está bem e corrigiri o que está mal.

Adão Maria

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